Artigo publicado na Revista de Política Agrícola, Jan/Mar 2011
Antônio Salazar P. Brandão
O recente aumento dos preços das commodities vem chamando a atenção dos líderes mundiais. Em momentos de elevada volatilidade como este, surgem várias proposições para tentar explicar o problema. Há, por exemplo, quem diagnostique o fenômeno apenas como mais uma manifestação da volatilidade dos preços das commodities, volatilidade que seria ocasionada por safras ruins, pela especulação financeira e pela política monetária pouco restritiva em vigor nos Estados Unidos. Qualquer que seja a interpretação, várias propostas vêm sendo feitas para a solução do problema, como a formação de estoques reguladores e a atuação sobre a especulação financeira, com os ativos baseados nos preços das commodities.
Com efeito, no período compreendido entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), observou-se elevado aumento de preços de várias commodities: o algodão, em 116%; o óleo de palma, em 59%; o milho, em 51%; o trigo, em 47%; o óleo de soja, em 37%; a carne bovina, em 33%; o óleo de girassol, em 28%; o óleo de canola, em 27%; e o açúcar, em 23%. O contraponto é oferecido pelos preços do arroz e do suco de laranja, que diminuíram 13% e 30%, respectivamente.
Temo que o aumento de preços de commodities agrícolas, particularmente o dos alimentos, seja resultado de elementos de natureza mais duradoura. A elevação dos preços mostra que, de fato, acentuou-se uma tendência que já vinha se manifestando há algum tempo. A figura a seguir ilustra a evolução anual dos índices de preços de alimentos do FMI, de 2000 a 2010, indicando um aumento real de 44%. No mesmo período, os preços do petróleo aumentaram 122%.
Entendo que alguns eventos podem explicar esse comportamento, como: o aumento da população mundial; o crescimento econômico de países emergentes; o crescente grau de urbanização observado nos países em desenvolvimento; as restrições ambientais, cada vez mais severas, de uso de terras com finalidade agropecuária; e a crescente participação da agricultura na produção de combustíveis renováveis, particularmente o álcool e o biodiesel. O aumento do preço do petróleo é parte integrante do quadro, como evidenciado na figura apresentada.
Os elementos indicados acima deverão continuar a exercer influência altista sobre os preços das commodities agrícolas no futuro. A seguir, analiso dois deles.
As restrições ambientais dificultarão a incorporação de novas áreas à produção agrícola. As regiões com maior disponibilidade de terras aptas para a agricultura, como o Brasil e alguns países da África, se verão cada vez mais afetadas por essas restrições, o que reduzirá a capacidade de resposta da produção ao aumento previsto na demanda.
A produção de combustíveis renováveis em substituição ao petróleo é outro elemento a ser considerado. Ainda que em alguns países, como o Brasil, a disponibilidade atual de terras seja suficiente para responder ao desafio e evitar conflitos entre uma provável disputa de uso da terra para a produção de alimentos ou para a produção de etanol, o mesmo não se aplica a outros países. A produção de etanol nos Estados Unidos e a produção de biodiesel na Europa exemplificam essa situação oposta.
A questão aumenta de proporção se considerarmos que a demanda por combustíveis renováveis deverá crescer a taxas muito elevadas nos próximos anos, o que fatalmente se refletirá em pressão sobre as áreas agricultáveis de todos os países. Isso resultará em encarecimento dos alimentos, que provocará expressiva perda de bem-estar social em países mais pobres, cuja população gasta grande parcela de sua renda com a aquisição de alimentos.
O mais importante elemento mitigador da tendência altista nos preços são as inovações que aumentam a produtividade da terra. É imprescindível, então, que os investimentos em pesquisa agropecuária, em todo o mundo, sejam mantidos e ampliados. E tão importante quanto manter e aumentar os investimentos é dar atenção especial para o estabelecimento de prioridades para a pesquisa de forma a privilegiar tecnologias que tenham potencial para aumentar a produtividade da terra e para tornar os métodos de produção de combustíveis renováveis menos intensivos no uso da terra e mais eficientes na conversão da matéria-prima em energia.
Referência
IMF. International Monetary Found. Primary Commodity Prices. Washington, DC, 2011. Disponível em:
IMF. International Monetary Found. Primary Commodity Prices. Washington, DC, 2011. Disponível em:
Acesso em: 20 jan. 2001.
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