sexta-feira, 28 de junho de 2019

Crescimento, reforma fiscal e desemprego






Crescimento, reforma fiscal e desemprego

Antônio Salazar P. Brandão[1]

A economia brasileira não cresce de forma significativa há alguns anos. A crise fiscal no governo federal é de grandes proporções: o orçamento apresenta déficit primário e a dívida pública continua crescendo. O problema fiscal de vários estados e municípios é muito grave também.

Para que os governos federal, estaduais e municipais possam prestar serviços com a qualidade compatível com a carga tributária existente no país e para que possam fazer investimentos tanto em expansão quanto em manutenção da infraestrutura é necessário resolver o problema fiscal. A reforma da previdência é um dos principais componentes do esforço necessário e, felizmente, parece que uma grande parte da sociedade e o poder legislativo estão convencidos disto.

A volta do crescimento econômico de forma sustentável somente será possível se a produtividade da economia aumentar e se voltarem os investimentos privados e públicos. Isto exige aprofundamento das reformas microeconômicas que reduzem ineficiências. Mas a solução do problema fiscal tem efeitos apenas indiretos sobre crescimento econômico: consolida a estabilidade macroeconômica, melhora a qualidade das iniciativas governamentais e pode assim influenciar de forma positiva novos investimentos.

Para que os efeitos benéficos da solução da questão fiscal se materializem será necessário tempo medido em anos e não em meses. Seus impactos sobre o crescimento econômico são indiretos. E o efeito pode ser nenhum se os investimentos privados não voltarem. E estes somente voltam se houver um clima econômico e político de confiança que alimente expectativas de lucros compensadores no futuro.

Entretanto há um problema que requer iniciativas que produzam efeitos a curto prazo: o elevado nível de desemprego. Grande parte dos milhões de desempregados está frustrada, deprimida e mesmo com raiva, e tem muitos problemas para saldar seus compromissos financeiros. Ignorar estas pessoas na formulação da política econômica é um grave erro sob o ponto de vista humanitário e sob o ponto de vista político e pode mesmo comprometer o andamento das reformas.

O que fazer então? Não fazer nada e esperar efeitos positivos das reformas macro e microeconômicas não é decisão adequada para um problema que clama por soluções urgentes. Não obstante, a aceitação, até agora, pela sociedade e pelos legisladores das reformas macroeconômicas, microeconômicas e patrimonial (privatizações) dão ao governo margem para algum ativismo fiscal no curto prazo. Investimentos em infraestrutura através de parcerias público-privadas são candidatos fortes para este tipo de ação. O que fazer, como fazer e quanto fazer depende de análise técnica de especialistas com informações suficientes. Cabe ao Ministério da Economia a tarefa de conceber e divulgar a estratégia bem como de coordenar sua execução.


[1] Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ.


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