Comentário
sobre o debate envolvendo a Embrapa
Antônio Salazar P. Brandão
O recente debate envolvendo a Embrapa é
oportuno. Traz à luz questões importantes para o futuro da empresa e sua
relação com o setor produtivo. Motivado por observações feitas por diversas
pessoas e cuja origem foi artigo recente do Prof. Zander Navarro no jornal o Estado
de São Paulo, faço a seguir comentários sobre alguns aspectos do tema que é
muito amplo.
De início reafirmo o que todos sabem: a Embrapa
é uma grande empresa e sua contribuição para o avanço da agricultura brasileira
é inegável. É exatamente pela grandeza e maturidade científica desta empresa que
me aventuro a fazer as observações que se seguem.
Gostaria de dar destaque à dualidade (na verdade,
heterogeneidade) da agricultura no país. Apesar dos grandes aumentos de
produtividade das últimas décadas a maioria dos estabelecimentos agrícolas
ainda têm produtividade e rentabilidade relativamente baixas. Estes
estabelecimentos são responsáveis por pequena parcela da produção agrícola
brasileira, conforme mostram pesquisas feitas por profissionais da própria
Embrapa. A maioria destes estabelecimentos é composta por agricultores
comerciais – enfatizo, agricultores comerciais – os quais têm desafios
específicos que precisam ser conhecidos e enfrentados para que possam atingir
patamares de produtividade mais elevados. Esta é uma importante fonte para o
crescimento da agricultura nos próximos anos e a Embrapa pode contribuir de
forma decisiva para atingir este objetivo. Aqui talvez deva estar um dos novos focos
estratégicos da empresa.
A descentralização das decisões é um aspecto
importante para que os desafios do setor façam parte efetiva do processo de
alocação de recursos para pesquisa. Certamente em um país com a dimensão
territorial do Brasil é necessário que a empresa tenha braços regionais, porém
é necessário também não perder de vista que a efetividade da pesquisa
científica exige massa crítica de
pessoas qualificadas que, através da interação e da discussão técnica, possam
garantir a qualidade de projetos e posteriormente dos resultados encontrados.
Os centros de pesquisa regionais devem ser em
número suficiente para tratar a diversidade de ambientes produtivos, mas ao
mesmo tempo devem existir condições efetivas para manter equipes robustas em
cada um deles. Encontrar este equilíbrio é essencial. Tenho a impressão que alguns
centros regionais foram criados em resposta a demandas políticas locais que não
necessariamente se coadunam com os princípios enunciados acima. Analisar esta
questão pode aumentar a efetividade da atuação da empresa. Existirão certamente
grandes desafios políticos a serem enfrentados.
Acredito que a Embrapa tenha condições de levar
adiante a missão de se posicionar frente aos novos desafios da agricultura. Mas
acredito também que um processo de avaliação externa seja essencial para que estes
desafios sejam vencidos. Alguns dos objetivos desta visão externa seriam: analisar
as prioridades de pesquisa diante das oportunidades e restrições para o
crescimento do setor, analisar a eficiência da alocação de recursos e analisar
a consistência do sistema de avaliação de pesquisadores com as prioridades da
pesquisa. A participação de cientistas, ao lado de outros profissionais especializados,
é essencial. A experiência internacional é vasta e não pode ser ignorada: do
time de avaliadores externos devem participar tanto profissionais brasileiros
quanto estrangeiros. Integrantes da cadeia produtiva da agroindústria, os
usuários finais dos resultados da pesquisa, também devem participar ativamente
deste processo.
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