quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A taxa de câmbio real de equilíbrio no Brasil: 1980 – 2010
Antônio Salazar P. Brandão

O debate sobre o nível da taxa de câmbio é recorrente no Brasil. Este debate se coloca em duas vertentes. Uma delas são as relações entre inflação e taxa de câmbio. A outra são as relações entre taxa de câmbio, saldo em transações correntes e saldo da conta capital e financeira do balanço de pagamentos.

A discussão na segunda vertente está efervescente e se desenvolve sobre o pano de fundo da expressiva entrada de capitais nos últimos anos e a valorização do Real. Alguns se referem ao problema como desindustrialização, pois a valorização da taxa de câmbio real prejudica os produtores domésticos que produzem bens para exportação e os produtores de bens que competem com as importações e, em consequência, tem impactos negativos sobre o crescimento do país. Outros, ao contrário, argumentam que o investimento direto aumentou expressivamente e que mesmo o capital que entra sob a forma de investimento em carteira contribui para a capitalização das empresas e seu fortalecimento.

Uma das lacunas do debate é a falta de um padrão objetivo de comparação para determinar o grau de valorização. O padrão de comparação necessário é a taxa de câmbio real de equilíbrio. Em trabalho recém completado, cuja referência completa encontra-se ao final do texto, fiz estimativas da referida taxa. Os valores estimados foram comparados aos valores observados entre o quarto trimestre de 1981 e o segundo trimestre de 2010. O gráfico mostra a diferença percentual entre a taxa de equilíbrio e a taxa observada.

Entre o primeiro trimestre de 1981 e o primeiro trimestre de 1983 a taxa de câmbio real estava abaixo do equilíbrio. Após a desvalorização ocorrida no início de 1983 o desequilíbrio cambial diminuiu até o início de 1989 quando novamente observa-se forte valorização que chega ao valor máximo de 63% no primeiro trimestre de 1990. O desequilíbrio permaneceu acima de 10% até o segundo trimestre de 2008. A partir de então se observa uma redução gradual do grau de valorização. Entre o primeiro trimestre de 1999 e o primeiro trimestre de 2005 houve novamente um forte desequilíbrio cambial, desta vez o valor da moeda abaixo do equilíbrio. A partir de então, a menos do que ocorreu no quarto trimestre de 2008 provavelmente em decorrência da crise internacional, a diferença entre as duas taxas é bem menor.

Mantidas as condições econômicas a tendência é que não ocorram variações de caráter permanente na taxa de câmbio. Não obstante, segundo mostra o estudo, dois fatores, ambos passíveis de serem diretamente influenciados pela política econômica, podem alterar a taxa de câmbio real: a taxa de juros e o nível de reservas do país.

Após um período de relativa estabilidade entre 2001 e 2005, a taxa de juros real no Brasil vem diminuindo, comportamento que contribui para reduzir a valorização da moeda. Entretanto, como ainda é uma taxa muito elevada em comparação à de outros países é possível e desejável que esta redução continue. Não obstante, a continuidade depende de condições internas favoráveis, notadamente o comportamento das expectativas de inflação. O crescimento do déficit público pode comprometer o processo de redução da taxa de juros.

O elevado nível de reservas contribui de maneira significativa para a valorização da taxa de câmbio real. Após receber grau de investimento de três agências de avaliação de risco de crédito e simultaneamente observar o prêmio de risco na dívida soberana se reduzir o país pode reduzir o volume de reservas.

Diversos analistas argumentam em favor de uma desvalorização da moeda para manter a competitividade dos setores produtores de bens comercializáveis. Não existe consenso sobre como isto deve ser feito, sendo que alguns chegam a advogar a volta ao sistema de taxa de câmbio administrada. Com base nos resultados do trabalho fica evidente que soluções que não contemplem os determinantes da taxa de câmbio real não serão sustentáveis e irão provocar desequilíbrios futuros e riscos elevados para a tomada de decisões pelo setor privado.

Brandão, Antônio Salazar P. A taxa de câmbio real de equilíbrio no Brasil: 1980 – 2010, em https://sites.google.com/site/antoniosalazarpbrandao/artigos-selecionados?pli=1

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