A incerteza continua
Na campanha eleitoral de 2014
houve rompimento do diálogo público produtivo sobre os temas relativos à
política econômica no Brasil. A gota d’água foram mentiras ditas durante a
campanha da Presidente Dilma com relação ao papel do Banco Central e à condução
da política monetária.
Após as eleições o clima não
melhorou. Apesar do que foi dito na campanha, a Presidente eleita ensaiou um processo
de ajuste macroeconômico. Mas aí foi a vez da oposição, notadamente o PSDB, de
se voltar contra suas propostas de campanha e contribuir para que o ensaio não fosse
levado ao palco. A votação do fator previdenciário foi o mais evidente destes
elementos: o criador voltou-se contra a criatura.
As notícias econômicas são muito
ruins: a inflação resiste e permanece em patamar elevado, apesar da enorme
recessão em que nos encontramos com o crescimento do PIB nos quatro trimestres encerrados
em março da ordem de -4,7%. O consumo das famílias e o investimento caíram 5,2%
e 16% respectivamente. O comportamento das exportações no mesmo período foi um
pouco melhor, crescimento de 8%. O índice da capacidade ociosa está elevado e o
desemprego encontra-se em níveis desalentadores.
A péssima situação das finanças
públicas impede o governo federal de usar a política fiscal para estimular a
economia nesse momento onde este instrumento seria tão necessário. A dívida
pública continua crescendo e não deverá diminuir enquanto não voltarmos a ter
superávit primário por um bom período de tempo no orçamento do governo federal.
Cenário político muito incerto e
taxas de juros elevadas desestimulam as empresas a investir. O crescimento das exportações
é um estímulo de demanda com o qual a economia pode contar nos próximos meses.
Mesmo assim, em vista das dificuldades da economia mundial, o impacto não deve
ser muito expressivo.
A existência de capacidade ociosa
elevada na indústria e o grande número de desempregados sugerem que pode haver
uma pequena recuperação do crescimento nos próximos meses. Mas nada garante
crescimento a longo prazo.
Existem mais problemas a resolver.
A dívida dos estados continua sendo motivo de preocupações: a capitalização dos
pagamentos negociada com o governo federal não é mais que um paliativo para os
próximos meses. A proposta de emenda constitucional para limitar os gastos da
União e dos Estados depende da aprovação do Congresso Nacional. Não está claro
se isto ocorrerá. Em caso afirmativo, entretanto, não sabemos o que será
aprovado e também não sabemos quais gastos serão cortados. A reforma da
Previdência está indefinida e sem condições de receber aprovação da sociedade através
do Congresso.
A solução do problema fiscal porém
está longe de ser suficiente para que o crescimento sustentado volte. Para que
isto ocorra os investimentos privados devem crescer, o que, por sua vez, requer
ambiente político e econômico favorável, e também indicações concretas de
crescimento permanente da demanda. Nenhuma
destas condições está garantida no momento.
A intenção do Banco Central de
trazer a inflação para 4,5% ao ano em 2017 levará as taxas de juros a cair
lentamente contribuindo também para retardar incentivos ao investimento. Seria
mais prudente buscar a meta de 4,5% em 2018.
Diante deste quadro poucas razões
justificariam otimismo em relação ao futuro. A proposta de uma emenda
constitucional cujos detalhes de implementação ainda não são conhecidos por si
só é muito tênue para criar incentivos ao investimento. Sem falar que a reforma
da Previdência por enquanto parece apenas intenção.
Reformas de qualquer natureza têm
impactos distributivos e é inevitável que existam perdedores e ganhadores. Para
mediar este conflito é preciso pensar no bem comum, e retomar um diálogo político
produtivo de forma a debater ideias e não simplesmente defender a agenda
eleitoral de qualquer partido. A retomada deste diálogo é o principal desafio
que a sociedade enfrentará após a conclusão do processo de impeachment ora em
curso. Se isto não ocorrer, desemprego e baixo crescimento ficarão conosco para
além de 2017.
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