sexta-feira, 28 de junho de 2019

Crescimento, reforma fiscal e desemprego






Crescimento, reforma fiscal e desemprego

Antônio Salazar P. Brandão[1]

A economia brasileira não cresce de forma significativa há alguns anos. A crise fiscal no governo federal é de grandes proporções: o orçamento apresenta déficit primário e a dívida pública continua crescendo. O problema fiscal de vários estados e municípios é muito grave também.

Para que os governos federal, estaduais e municipais possam prestar serviços com a qualidade compatível com a carga tributária existente no país e para que possam fazer investimentos tanto em expansão quanto em manutenção da infraestrutura é necessário resolver o problema fiscal. A reforma da previdência é um dos principais componentes do esforço necessário e, felizmente, parece que uma grande parte da sociedade e o poder legislativo estão convencidos disto.

A volta do crescimento econômico de forma sustentável somente será possível se a produtividade da economia aumentar e se voltarem os investimentos privados e públicos. Isto exige aprofundamento das reformas microeconômicas que reduzem ineficiências. Mas a solução do problema fiscal tem efeitos apenas indiretos sobre crescimento econômico: consolida a estabilidade macroeconômica, melhora a qualidade das iniciativas governamentais e pode assim influenciar de forma positiva novos investimentos.

Para que os efeitos benéficos da solução da questão fiscal se materializem será necessário tempo medido em anos e não em meses. Seus impactos sobre o crescimento econômico são indiretos. E o efeito pode ser nenhum se os investimentos privados não voltarem. E estes somente voltam se houver um clima econômico e político de confiança que alimente expectativas de lucros compensadores no futuro.

Entretanto há um problema que requer iniciativas que produzam efeitos a curto prazo: o elevado nível de desemprego. Grande parte dos milhões de desempregados está frustrada, deprimida e mesmo com raiva, e tem muitos problemas para saldar seus compromissos financeiros. Ignorar estas pessoas na formulação da política econômica é um grave erro sob o ponto de vista humanitário e sob o ponto de vista político e pode mesmo comprometer o andamento das reformas.

O que fazer então? Não fazer nada e esperar efeitos positivos das reformas macro e microeconômicas não é decisão adequada para um problema que clama por soluções urgentes. Não obstante, a aceitação, até agora, pela sociedade e pelos legisladores das reformas macroeconômicas, microeconômicas e patrimonial (privatizações) dão ao governo margem para algum ativismo fiscal no curto prazo. Investimentos em infraestrutura através de parcerias público-privadas são candidatos fortes para este tipo de ação. O que fazer, como fazer e quanto fazer depende de análise técnica de especialistas com informações suficientes. Cabe ao Ministério da Economia a tarefa de conceber e divulgar a estratégia bem como de coordenar sua execução.


[1] Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ.


sábado, 20 de janeiro de 2018

Comentário sobre o debate envolvendo a Embrapa
Antônio Salazar P. Brandão
O recente debate envolvendo a Embrapa é oportuno. Traz à luz questões importantes para o futuro da empresa e sua relação com o setor produtivo. Motivado por observações feitas por diversas pessoas e cuja origem foi artigo recente do Prof. Zander Navarro no jornal o Estado de São Paulo, faço a seguir comentários sobre alguns aspectos do tema que é muito amplo.

De início reafirmo o que todos sabem: a Embrapa é uma grande empresa e sua contribuição para o avanço da agricultura brasileira é inegável. É exatamente pela grandeza e maturidade científica desta empresa que me aventuro a fazer as observações que se seguem.

Gostaria de dar destaque à dualidade (na verdade, heterogeneidade) da agricultura no país. Apesar dos grandes aumentos de produtividade das últimas décadas a maioria dos estabelecimentos agrícolas ainda têm produtividade e rentabilidade relativamente baixas. Estes estabelecimentos são responsáveis por pequena parcela da produção agrícola brasileira, conforme mostram pesquisas feitas por profissionais da própria Embrapa. A maioria destes estabelecimentos é composta por agricultores comerciais – enfatizo, agricultores comerciais – os quais têm desafios específicos que precisam ser conhecidos e enfrentados para que possam atingir patamares de produtividade mais elevados. Esta é uma importante fonte para o crescimento da agricultura nos próximos anos e a Embrapa pode contribuir de forma decisiva para atingir este objetivo. Aqui talvez deva estar um dos novos focos estratégicos da empresa.

A descentralização das decisões é um aspecto importante para que os desafios do setor façam parte efetiva do processo de alocação de recursos para pesquisa. Certamente em um país com a dimensão territorial do Brasil é necessário que a empresa tenha braços regionais, porém é necessário também não perder de vista que a efetividade da pesquisa científica exige massa crítica de pessoas qualificadas que, através da interação e da discussão técnica, possam garantir a qualidade de projetos e posteriormente dos resultados encontrados.

Os centros de pesquisa regionais devem ser em número suficiente para tratar a diversidade de ambientes produtivos, mas ao mesmo tempo devem existir condições efetivas para manter equipes robustas em cada um deles. Encontrar este equilíbrio é essencial. Tenho a impressão que alguns centros regionais foram criados em resposta a demandas políticas locais que não necessariamente se coadunam com os princípios enunciados acima. Analisar esta questão pode aumentar a efetividade da atuação da empresa. Existirão certamente grandes desafios políticos a serem enfrentados.


Acredito que a Embrapa tenha condições de levar adiante a missão de se posicionar frente aos novos desafios da agricultura. Mas acredito também que um processo de avaliação externa seja essencial para que estes desafios sejam vencidos. Alguns dos objetivos desta visão externa seriam: analisar as prioridades de pesquisa diante das oportunidades e restrições para o crescimento do setor, analisar a eficiência da alocação de recursos e analisar a consistência do sistema de avaliação de pesquisadores com as prioridades da pesquisa. A participação de cientistas, ao lado de outros profissionais especializados, é essencial. A experiência internacional é vasta e não pode ser ignorada: do time de avaliadores externos devem participar tanto profissionais brasileiros quanto estrangeiros. Integrantes da cadeia produtiva da agroindústria, os usuários finais dos resultados da pesquisa, também devem participar ativamente deste processo. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016


A incerteza continua

Antônio Salazar P. Brandão[1]

Na campanha eleitoral de 2014 houve rompimento do diálogo público produtivo sobre os temas relativos à política econômica no Brasil. A gota d’água foram mentiras ditas durante a campanha da Presidente Dilma com relação ao papel do Banco Central e à condução da política monetária.

Após as eleições o clima não melhorou. Apesar do que foi dito na campanha, a Presidente eleita ensaiou um processo de ajuste macroeconômico. Mas aí foi a vez da oposição, notadamente o PSDB, de se voltar contra suas propostas de campanha e contribuir para que o ensaio não fosse levado ao palco. A votação do fator previdenciário foi o mais evidente destes elementos: o criador voltou-se contra a criatura.

As notícias econômicas são muito ruins: a inflação resiste e permanece em patamar elevado, apesar da enorme recessão em que nos encontramos com o crescimento do PIB nos quatro trimestres encerrados em março da ordem de -4,7%. O consumo das famílias e o investimento caíram 5,2% e 16% respectivamente. O comportamento das exportações no mesmo período foi um pouco melhor, crescimento de 8%. O índice da capacidade ociosa está elevado e o desemprego encontra-se em níveis desalentadores.

A péssima situação das finanças públicas impede o governo federal de usar a política fiscal para estimular a economia nesse momento onde este instrumento seria tão necessário. A dívida pública continua crescendo e não deverá diminuir enquanto não voltarmos a ter superávit primário por um bom período de tempo no orçamento do governo federal.

Cenário político muito incerto e taxas de juros elevadas desestimulam as empresas a investir. O crescimento das exportações é um estímulo de demanda com o qual a economia pode contar nos próximos meses. Mesmo assim, em vista das dificuldades da economia mundial, o impacto não deve ser muito expressivo.

A existência de capacidade ociosa elevada na indústria e o grande número de desempregados sugerem que pode haver uma pequena recuperação do crescimento nos próximos meses. Mas nada garante crescimento a longo prazo.

Existem mais problemas a resolver. A dívida dos estados continua sendo motivo de preocupações: a capitalização dos pagamentos negociada com o governo federal não é mais que um paliativo para os próximos meses. A proposta de emenda constitucional para limitar os gastos da União e dos Estados depende da aprovação do Congresso Nacional. Não está claro se isto ocorrerá. Em caso afirmativo, entretanto, não sabemos o que será aprovado e também não sabemos quais gastos serão cortados. A reforma da Previdência está indefinida e sem condições de receber aprovação da sociedade através do Congresso.

A solução do problema fiscal porém está longe de ser suficiente para que o crescimento sustentado volte. Para que isto ocorra os investimentos privados devem crescer, o que, por sua vez, requer ambiente político e econômico favorável, e também indicações concretas de crescimento permanente da demanda.  Nenhuma destas condições está garantida no momento.

A intenção do Banco Central de trazer a inflação para 4,5% ao ano em 2017 levará as taxas de juros a cair lentamente contribuindo também para retardar incentivos ao investimento. Seria mais prudente buscar a meta de 4,5% em 2018.

Diante deste quadro poucas razões justificariam otimismo em relação ao futuro. A proposta de uma emenda constitucional cujos detalhes de implementação ainda não são conhecidos por si só é muito tênue para criar incentivos ao investimento. Sem falar que a reforma da Previdência por enquanto parece apenas intenção.

Reformas de qualquer natureza têm impactos distributivos e é inevitável que existam perdedores e ganhadores. Para mediar este conflito é preciso pensar no bem comum, e retomar um diálogo político produtivo de forma a debater ideias e não simplesmente defender a agenda eleitoral de qualquer partido. A retomada deste diálogo é o principal desafio que a sociedade enfrentará após a conclusão do processo de impeachment ora em curso. Se isto não ocorrer, desemprego e baixo crescimento ficarão conosco para além de 2017.




[1] Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Ajuste fiscal


 

A solução para a economia está na política

 

Antônio Salazar P. Brandão

 

A economia brasileira enfrenta um momento de grandes dificuldades, algumas de natureza puramente conjuntural e outras de natureza estrutural. No grupo das primeiras encontram-se o desajuste profundo das contas públicas, a elevação da inflação e a deterioração nas contas do setor externo. Dentre as dificuldades de natureza estrutural encontram-se as restrições na disponibilidade de água, na oferta de energia elétrica e nas deficiências de infraestrutura que provocam aumentos nos custos para os setores produtivos. Expectativas desfavoráveis dos agentes econômicos e as amplas consequências das dificuldades enfrentadas pela Petrobras contribuem para agravar ainda mais o quadro atual. O efeito imediato é retração da economia e aumento do desemprego em 2015, estendendo-se possivelmente até 2016 e além.

 

O desafio a ser enfrentado pelo país é como sair desta enrascada. As medidas mais urgentes e imediatas são aquelas para reduzir o déficit público. Não obstante, a magnitude do ajuste necessário requer gradualismo ao invés de tratamento de choque. Repetindo um clichê é necessário dosar o remédio para não matar o doente. A meta de produzir um superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 somente será atingida a um custo, em termos de emprego e PIB, que não parece ser aceitável para a sociedade.

 

Por outro lado, simplesmente perseguir uma meta menos ambiciosa para 2015,sem compromissos firmes para os anos seguintes do atual mandato presidencial, será ineficaz. O caminho, a meu ver, passa por um entendimento político que dê a devida credibilidade para o ajuste das contas públicas num período de 3 anos e para a manutenção do programa de metas de inflação e da taxa de câmbio flutuante.

 

Desse entendimento deverão necessariamente fazer parte o governo e sua base de apoio. Mas a oposição precisa ter um papel ativo para apoiar o programa econômico, particularmente o PSDB, seu presidente e suas lideranças que na última campanha eleitoral tinham no ajuste fiscal, na manutenção das metas de inflação e da política cambial um dos seus pilares.

 

Um ambiente onde se consiga consenso claro e irrestrito sobre estes aspectos contribuirá sobremaneira para reduzir incertezas e o peso negativo dos fatores conjunturais sobre as expectativas causando menos desemprego e menos perda de PIB. Uma condição necessária para isto é que o governo central, ao final de 3 anos, se comprometa com a obtenção de um superávit primário de pelo menos 3% do PIB.

 

Neste prazo mais estendido de ajuste, poderão então ser tratadas as restrições de oferta existentes com vistas a criar um ambiente mais propício para novos investimentos e para garantir taxas de crescimento do PIB elevadas e sustentáveis.

 

Em síntese, cabe à base de apoio do governo rever posições anteriores e dar sinais inequívocos para todos de seu compromisso com a estabilidade macroeconômica. Mas também a oposição, notadamente o PSDB, seu presidente e seus líderes mais expressivos, deveriam ser proativos e mostrar, de maneira explícita e clara, coerência com as propostas que fizeram durante a última campanha eleitoral.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


 
Policy concerns in middle income countries: a Brazilian perspective*
 
Rio de Janeiro, November 13, 2012.
 
Antônio Salazar P. Brandão**
1.    Introduction

Credit subsidies have been part of agricultural policy in Brazil since the mid of the 1960s and they were the backbone of the policy during most of the 1970s. In that period nominal interest rates were independent of inflation and real rates were consistently negative. Difficulties in monitoring the use of resources granted through this program and the large difference between market interest rates and the agricultural rates created arbitrage opportunities that reduced significantly the incremental volume of credit resources effectively devoted to agriculture.

Brandão and Carvalho (1990) have estimated the net transfers of resources through direct and indirect policies. According to their estimates, the average transfer during the period 1966 – 1983 was about 4.6 percent. However, when credit subsidies are excluded, the net transfer is -3.4 percent (p. 117).

2.    Current situation

PSE calculations by OECD show that after 1997 support to agriculture in Brazil became positive; the average PSE between 1998 and 2012 is 5.2 percent with no apparent trend. Nevertheless, the level of protection is still low compared to OECD countries and to some emerging countries such as China and Russia where PSEs are approaching the levels of those in OECD countries (OECD 2011, p. 52).

Nonetheless, current policies rely heavily on credit instruments to achieve their objectives. Despite the fact that the share of credit subsidies have declined since 2000, they are still a high percentage of PSE: 42 percent in 2010.

According to Plano Agrícola e Pecuário 2012 / 2013 in this agricultural year the Ministry of Agriculture plans to allocate R$ 133 billion to credit based programs. These include working capital, marketing and investment credit as well as special programs for small farmers.

At present agricultural credit subsidies are lower than they used to be in the 1970s and 1980s and, as such, are less prone to be used elsewhere in the economy. But it is a fact that up to now, commercial banks are reluctant in lending to agriculture and the large majority of loans to agriculture are made by Banco do Brasil, a commercial bank which is controlled by the federal government.

Despite the above considerations agricultural productivity has been growing at the rate of 2.27 percent per year between 1970 and 2006 (Gasques et.all (2010)). This is quite remarkable and is one of the main elements to explain the performance of Brazilian agricultural products in world markets. Nevertheless, there is still a duality in the sector as has been documented recently by Alves et. all (2012) with data from the Agricultural Census 2006. They argue that the difficulties faced by the 89 percent of farms which contributed with only 12 percent of the value of production are associated with lack of credit and lack of knowledge to adopt new technologies. From one hand this conclusion illustrates common difficulties of credit subsidy programs, namely access is restricted to few farmers. On the other hand the conclusion points to the need for the provision of more services to farmers, particularly education and extension. However this component of support to agricultural is declining over time, including those related to agricultural education.

Data taken from OECD (2011) show that the share of General Services Support Estimate (GSSE) in Total Support Estimate (TSE) declines from 35 percent in 2001 to 24 percent in 2010. The largest component of GSSE is expenditures with land reform which has increased from 7 percent of TSE to 12 percent in 2010. The highest value, 16 percent, was achieved in 2006. Research and development declined between 2000 and 2006, increasing slightly thereafter. Agricultural education is roughly constant after 2000, with a spike between 2003 and 2006. It is worth noting also that support for public stockholding under the minimum price program has been increasing steadily since 2000. In the year 2010 support to this activity is higher than support to education, research and development and inspection services.

3.    Concluding remarks

This note has argued that, despite the fact that agricultural support in Brazil is low relatively to other countries with similar income levels, it is increasingly based on direct transfers to producers and that credit subsidies comprise a large share of those transfers.

Despite the spectacular performance of agriculture in the last 30 years, the sector is still characterized by duality, with only a small proportion of farms been responsible for the bulk of the value of production (Alves et. all, 2012). The other group of farmers is not able to use modern technologies and is constrained by lack of credit[1].

Support for the provision of services to agriculture is decreasing as a proportion of total support. Rural education and rural extension in turn comprise a tiny part of services. Nevertheless, these are key services to address the problems that lead to the dual nature of the sector in Brazil.

As a consequence of the emphasis given to agricultural credit subsidies commercial banks are not engaged in providing credit to agriculture, with the exception of Banco do Brasil. This restricts competition among banks and limits the supply of credit almost entirely to the volume of resources allocated by the Treasury[2].

The challenge for Brazilian policy makers is to create an environment where the private sector finds it attractive to lend to agriculture. The fact that interest rates have been greatly reduced recently provides an ideal opportunity for the government to step out of the credit market and to redirect resources to the provision of education, extension and other decoupled forms of support to agriculture.

4.    References

Alves, Eliseu; Geraldo da Silva e Souza; e Daniela de Paula Rocha. Lucratividade da agricultura. Revista de Política Agrícola, vol. XXI, Nº 2, Apr/May/Jun 2012


Brandão, Antônio Salazar P. and José Luiz Carvalho (1990) Brasil, in Krueger, Anne O.; Maurice Schiff and Alberto Valdes (editors) Economia Politica de Las Intervenciones de Precios Agricolas em America Latina, Banco Mundial, Centro Internacional para El Desarollo Economico.


Gasques, J. G.; E. T. Bastos; M. R. P. Bachhi; e C. Valdes, C. Produtividade total dos fatores e transformações da agricultura brasileeira: análise dos dados dos censos agropecuários, in: Gasques, J. G.; J. Vieira Filho and Z. Navarro. (editors). A agricultura brasileira: desempenho, desafios e perspectivas. Brasília: IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vol. único, p. 19-64. 2010.
 

OECD (2011) Agricultural Policy Monitoring and Evaluation 2011: OECD Countries and Emerging Economies, OECD Publishing.

http://dx.doi.org/10.1787/agr_pol-2011-en


Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (2012) Plano Agrícola e Pecuário 2012 / 2013, Brasília, D.F.



* This is an abridged version of a note based on the presentation by the author at the  symposium Matching Agricultural Policies to Development Needs, organized by the OECD, at the International Conference of Agricultural Economists, Foz do Iguaçu, August 18-24, 2012. For the complete paper see:
http://sites.google.com/site/antoniosalazarpbrandao/artigos-selecionados
** Associate Professor of Economics, State University of Rio de Janeiro.
[1] This is so despite the fact that there are credit programs dedicated to family farms.
 
[2] There are situations where credit is advanced by input suppliers or by companies that purchase farmer’s output. These types of contracts however are not accessible to the great majority of farmers.

sábado, 18 de junho de 2011

Artigo publicado na Revista de Política Agrícola, Jan/Mar 2011

Preços elevados de commodities
Antônio Salazar P. Brandão
O recente aumento dos preços das commodities vem chamando a atenção dos líderes mundiais. Em momentos de elevada volatilidade como este, surgem várias proposições para tentar explicar o problema. Há, por exemplo, quem diagnostique o fenômeno apenas como mais uma manifestação da volatilidade dos preços das commodities, volatilidade que seria ocasionada por safras ruins, pela especulação financeira e pela política monetária pouco restritiva em vigor nos Estados Unidos. Qualquer que seja a interpretação, várias propostas vêm sendo feitas para a solução do problema, como a formação de estoques reguladores e a atuação sobre a especulação financeira, com os ativos baseados nos preços das commodities.

Com efeito, no período compreendido entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), observou-se elevado aumento de preços de várias commodities: o algodão, em 116%; o óleo de palma, em 59%; o milho, em 51%; o trigo, em 47%; o óleo de soja, em 37%; a carne bovina, em 33%; o óleo de girassol, em 28%; o óleo de canola, em 27%; e o açúcar, em 23%. O contraponto é oferecido pelos preços do arroz e do suco de laranja, que diminuíram 13% e 30%, respectivamente.

Temo que o aumento de preços de commodities agrícolas, particularmente o dos alimentos, seja resultado de elementos de natureza mais duradoura. A elevação dos preços mostra que, de fato, acentuou-se uma tendência que já vinha se manifestando há algum tempo. A figura a seguir ilustra a evolução anual dos índices de preços de alimentos do FMI, de 2000 a 2010, indicando um aumento real de 44%. No mesmo período, os preços do petróleo aumentaram 122%.

Entendo que alguns eventos podem explicar esse comportamento, como: o aumento da população mundial; o crescimento econômico de países emergentes; o crescente grau de urbanização observado nos países em desenvolvimento; as restrições ambientais, cada vez mais severas, de uso de terras com finalidade agropecuária; e a crescente participação da agricultura na produção de combustíveis renováveis, particularmente o álcool e o biodiesel. O aumento do preço do petróleo é parte integrante do quadro, como evidenciado na figura apresentada.
Os elementos indicados acima deverão continuar a exercer influência altista sobre os preços das commodities agrícolas no futuro. A seguir, analiso dois deles.
As restrições ambientais dificultarão a incorporação de novas áreas à produção agrícola. As regiões com maior disponibilidade de terras aptas para a agricultura, como o Brasil e alguns países da África, se verão cada vez mais afetadas por essas restrições, o que reduzirá a capacidade de resposta da produção ao aumento previsto na demanda.


A produção de combustíveis renováveis em substituição ao petróleo é outro elemento a ser considerado. Ainda que em alguns países, como o Brasil, a disponibilidade atual de terras seja suficiente para responder ao desafio e evitar conflitos entre uma provável disputa de uso da terra para a produção de alimentos ou para a produção de etanol, o mesmo não se aplica a outros países. A produção de etanol nos Estados Unidos e a produção de biodiesel na Europa exemplificam essa situação oposta.

A questão aumenta de proporção se considerarmos que a demanda por combustíveis renováveis deverá crescer a taxas muito elevadas nos próximos anos, o que fatalmente se refletirá em pressão sobre as áreas agricultáveis de todos os países. Isso resultará em encarecimento dos alimentos, que provocará expressiva perda de bem-estar social em países mais pobres, cuja população gasta grande parcela de sua renda com a aquisição de alimentos.

O mais importante elemento mitigador da tendência altista nos preços são as inovações que aumentam a produtividade da terra. É imprescindível, então, que os investimentos em pesquisa agropecuária, em todo o mundo, sejam mantidos e ampliados. E tão importante quanto manter e aumentar os investimentos é dar atenção especial para o estabelecimento de prioridades para a pesquisa de forma a privilegiar tecnologias que tenham potencial para aumentar a produtividade da terra e para tornar os métodos de produção de combustíveis renováveis menos intensivos no uso da terra e mais eficientes na conversão da matéria-prima em energia.
Referência
IMF. International Monetary Found. Primary Commodity Prices. Washington, DC, 2011. Disponível em:

Acesso em: 20 jan. 2001.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A taxa de câmbio real de equilíbrio no Brasil: 1980 – 2010
Antônio Salazar P. Brandão

O debate sobre o nível da taxa de câmbio é recorrente no Brasil. Este debate se coloca em duas vertentes. Uma delas são as relações entre inflação e taxa de câmbio. A outra são as relações entre taxa de câmbio, saldo em transações correntes e saldo da conta capital e financeira do balanço de pagamentos.

A discussão na segunda vertente está efervescente e se desenvolve sobre o pano de fundo da expressiva entrada de capitais nos últimos anos e a valorização do Real. Alguns se referem ao problema como desindustrialização, pois a valorização da taxa de câmbio real prejudica os produtores domésticos que produzem bens para exportação e os produtores de bens que competem com as importações e, em consequência, tem impactos negativos sobre o crescimento do país. Outros, ao contrário, argumentam que o investimento direto aumentou expressivamente e que mesmo o capital que entra sob a forma de investimento em carteira contribui para a capitalização das empresas e seu fortalecimento.

Uma das lacunas do debate é a falta de um padrão objetivo de comparação para determinar o grau de valorização. O padrão de comparação necessário é a taxa de câmbio real de equilíbrio. Em trabalho recém completado, cuja referência completa encontra-se ao final do texto, fiz estimativas da referida taxa. Os valores estimados foram comparados aos valores observados entre o quarto trimestre de 1981 e o segundo trimestre de 2010. O gráfico mostra a diferença percentual entre a taxa de equilíbrio e a taxa observada.

Entre o primeiro trimestre de 1981 e o primeiro trimestre de 1983 a taxa de câmbio real estava abaixo do equilíbrio. Após a desvalorização ocorrida no início de 1983 o desequilíbrio cambial diminuiu até o início de 1989 quando novamente observa-se forte valorização que chega ao valor máximo de 63% no primeiro trimestre de 1990. O desequilíbrio permaneceu acima de 10% até o segundo trimestre de 2008. A partir de então se observa uma redução gradual do grau de valorização. Entre o primeiro trimestre de 1999 e o primeiro trimestre de 2005 houve novamente um forte desequilíbrio cambial, desta vez o valor da moeda abaixo do equilíbrio. A partir de então, a menos do que ocorreu no quarto trimestre de 2008 provavelmente em decorrência da crise internacional, a diferença entre as duas taxas é bem menor.

Mantidas as condições econômicas a tendência é que não ocorram variações de caráter permanente na taxa de câmbio. Não obstante, segundo mostra o estudo, dois fatores, ambos passíveis de serem diretamente influenciados pela política econômica, podem alterar a taxa de câmbio real: a taxa de juros e o nível de reservas do país.

Após um período de relativa estabilidade entre 2001 e 2005, a taxa de juros real no Brasil vem diminuindo, comportamento que contribui para reduzir a valorização da moeda. Entretanto, como ainda é uma taxa muito elevada em comparação à de outros países é possível e desejável que esta redução continue. Não obstante, a continuidade depende de condições internas favoráveis, notadamente o comportamento das expectativas de inflação. O crescimento do déficit público pode comprometer o processo de redução da taxa de juros.

O elevado nível de reservas contribui de maneira significativa para a valorização da taxa de câmbio real. Após receber grau de investimento de três agências de avaliação de risco de crédito e simultaneamente observar o prêmio de risco na dívida soberana se reduzir o país pode reduzir o volume de reservas.

Diversos analistas argumentam em favor de uma desvalorização da moeda para manter a competitividade dos setores produtores de bens comercializáveis. Não existe consenso sobre como isto deve ser feito, sendo que alguns chegam a advogar a volta ao sistema de taxa de câmbio administrada. Com base nos resultados do trabalho fica evidente que soluções que não contemplem os determinantes da taxa de câmbio real não serão sustentáveis e irão provocar desequilíbrios futuros e riscos elevados para a tomada de decisões pelo setor privado.

Brandão, Antônio Salazar P. A taxa de câmbio real de equilíbrio no Brasil: 1980 – 2010, em https://sites.google.com/site/antoniosalazarpbrandao/artigos-selecionados?pli=1